Racismo ambiental traz mais preocupação do que comemoração no Dia do Meio Ambiente – Por Professor Josemar
Neste 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, posso dizer que temos mais com o que nos preocuparmos do que comemorarmos, particularmente quando fazemos parte da população mais pobre.
5 jun 2025, 13:07 Tempo de leitura: 3 minutos, 53 segundos
Neste 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, posso dizer que temos mais com o que nos preocuparmos do que comemorarmos, particularmente quando fazemos parte da população mais pobre. Embora as propaladas e reais mudanças climáticas afetem todo o planeta, os grupos sociais são afetados de formas diferentes. Nessa realidade, os mais vulneráveis são os que mais sofrem com as tragédias ambientais, muitas vezes incrementadas pelo descaso.
As comunidades negras, periféricas, os quilombolas e os indígenas são as que enfrentam o maior impacto e isso não é uma coincidência. É uma escolha política de concentração capitalista que prioriza seus interesses em detrimento da natureza. A destruição ambiental é inerente a este sistema que, mesmo ao custo de vidas, tem seus defensores que fingem não entenderem o que ocorre enquanto defendem apenas seus lucros.
O racismo ambiental se mostra na inação. Ou na falta de atenção à oferta de serviços básicos como água potável, eletricidade e saneamento. Ou na definição da estrutura urbana e habitacional. Uma casa levada pela enxurrada, o valão que transborda e inunda a residência, o calor dentro do transporte público, o lixo acumulado na porta de casa, os deslizamentos de terra e outras consequências dos desequilíbrios ambientais, na maioria das vezes, tem CEP, conta bancária e cor da pele bem definidos.
As áreas pobres ficam sem urbanização e a ajuda após os desastres ambientais não chega. Assim como, em geral, a recuperação das condições de mobilidade das áreas nobres das cidades, após grandes temporais, é completamente diferente das áreas pobres, que, por vezes ficam horas ou dias debaixo d’água. Ao passo que nas áreas ricas o escoamento é quase imediato.
Todos sabemos as diferenças absurdas de investimentos entre o que recebem os bairros ricos ou áreas ricas e os pobres e periféricos. Lutar por justiça ambiental é lutar por equidade.
As condições de moradia afetam diretamente a saúde da população. É uma vergonha que a Rocinha, na Zona Sul do Rio, cercada de áreas com os maiores índices de rendimento per capta da cidade, tenha casos de tuberculose em função da existência de becos e vielas insalubres e uma qualidade de vida que piora cada vez mais os impactos das mudanças climáticas. É nessas favelas e periferias, com falta de acesso a serviços básicos que vive grande parte da população brasileira.
O transporte público que deveria integrar com qualidade as regiões, é um exemplo da lógica racista. Normalmente a população negra mora mais distante e é discriminada no acesso. Vemos essa realidade diariamente e com momentos de explicitação maior nas famosas operações de verão que buscam impedir o acesso dos jovens negros às praias da Zona Sul carioca.
Os territórios quilombolas são ocupados por comunidades tradicionais e foram criados como refúgios frente à escravidão. Hoje seguem como espaços de preservação da floresta, cultura e modos de vida sustentáveis. São diretamente afetados com o racismo ambiental e lutam há décadas pela preservação de seus territórios. Mas frequentemente são atacadas por invasores que buscam a exploração de suas terras na mesma lógica de exploração dos recursos naturais enfrentadas pelos indígenas. Ambos são a garantia da preservação das áreas e defendem a justiça climática.
O Brasil que será sede da COP30 – 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Belém do Pará em outubro desse ano e, infelizmente, não tem como chegar de peito aberto para ser uma liderança climática global, como era esperado. A defesa da exploração de petróleo na Foz do Amazonas é uma incoerência pois põe em risco comunidades costeiras e ribeirinhas que dependem desse ecossistema e a própria biodiversidade do planeta.
Enfrentar o racismo ambiental é também defender os direitos humanos. É valorizar a experiência acumulada por séculos de permanência nos territórios. Por isso, precisamos defender a titulação dos quilombos e a demarcação das terras indígenas. Precisamos de políticas públicas para dotar as favelas, comunidades, periferias de condições dignas de vida. Temos que ter ações que eliminem as desigualdades, com a garantia de participação de cada comunidade envolvida, a promoção da educação ambiental está vinculada à valorização desses conhecimentos tradicionais acumulados e na disposição real de que sejam ouvidas e tenham suas vozes acatadas.